segunda-feira, 17 de setembro de 2012

OS PARENTES DOS BAGRES

A prática do nepotismo é tão arraigada entre nós que nem sentimos. Costumo brincar que nepotismo é quando os outros contratam seu parentes para cargos públicos; os nossos parentes podem ser contratados, pois nós sabemos o quanto eles são competentes...
Certa vez, estava trabalhando numa cidade de Santa Catarina e conheci um cara que era vereador por lá. Um dia, conversando com um amigo, este criticou o vereador: “Traste de vereador, não arruma nem emprego pros parentes!”. Argumentei que vereadores não são eleitos pra dar emprego para os parentes, e sim pra legislar, mas acho que não convenci muito meu amigo.
Cabe lembrar que os parentes contratados podem até ser competentes. Mas não é isso que está em jogo. Contratar parentes, em qualquer escala, pode estar dentro da lei – tomara que mude logo – mas não é uma atitude ética. Pode, mas não deve.
Segundo Emerson Garcia, do Ministério Público do Rio de Janeiro, ‘Nepotismo, em essência, significa favorecimento. Somente os agentes que ostentem grande equilíbrio e retidão de caráter conseguem manter incólume a dicotomia entre o público e o privado, impedindo que sentimentos de ordem pessoal contaminem e desvirtuem a atividade pública que se propuseram a desempenhar”. Da mesma forma, o nepotismo fere o principio da moralidade administrativa, podendo levar a confundir a coisa pública com um mero caso de família.
Hoje, o nepotismo é considerado, em escala mundial, como um dos grandes entraves à democracia, juntamente com a corrupção. As leis que estão sendo votadas no STF refletem essa preocupação. O nepotismo no Brasil deve ser criminalizado, para alívio da cidadania.
Entre nós, na deitada-a-beira-do-mar, o nepotismo foi quase um direito dos ocupantes de cargos públicos. Inevitáveis e pouco transparentes como os nevoeiros de agosto. Via-se, em função do parentesco, pessoas pouco qualificadas em funções importantes, praticamente uma afronta aos cidadãos. Abundam exemplos. Uma prática nefasta para a democracia, para a moralidade pública, para nossos políticos. O nepotismo tem que acabar. Quem quer que seja o eleito em 5 de outubro, deve ter um compromisso público de não nomear parentes para quaisquer cargos na administração. Lugar de parente é no almoço de domingo, e não na administração pública.

(esse texto foi publicado em agosto/2008 aqui no Urublues (ver).Tomara que no futuro essa discussão seja só uma questão histórica e cultural já ultrapassada) 

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