sábado, 16 de agosto de 2014

FESTA DE N.S. DO PILAR (DE 1929!)


FESTA DE NOSSA SENHORA DO PILAR

POR OCTAVIO SECUNDINO

Quando Antonina está no reinado da Virgem do Pilar, ricos e pobres se confraternizam.
O mercado tonar-se repleto de “iguarias do mar”.
Lembra-se do tempo dos Rosas, dos Quarteis, dos Nunes, dos Pires, dos Mellos, dos Ribeiros, abastados donos de sítios de fartura.
Ao tempo do prefeito, o eminente chefe republicano Coronel Theóphilo Soares e do saudoso cidadão patrício Coronel Libero Guimarães, era estabelecido o preço fixo para a venda de peixes, mariscos, fructas e outros “saborosos da praia”, para que não houvesse excesso de zelo..., especialmente para quem aparecesse no caes com ares de “curitybano”.
Era o tempo do  3 por 2; do “5 por um tostão”, do “um por um vintém”.
Constitue um dos encantos do visitante a ida ao mercado e assistir, da rampa, o espetáculo grandioso que oferece os portos de mar, em dia de bom tempo, ceo azul, mar esverdeado, ora  calmo, em plácido marulhar, ora agitado, nervoso, erguendo ondas que se perdem ao longo do horizonte, lá, muito lá fora; a bahia sulta de embarcações, os morros que a circundam, limpos de neblina, e tudo isso , esse desenrolar de belezas deve-se ao mar, o misterioso mar:

Vejo-te às vezes calmo, serenado,
E de repente crespo, revoltado,
Em montanhas de enormes galahões,
Por ti ó mar vivo enamorado,
Vendo surtos, em te seio esverdeado,
Os bergantins de nossos corações...(OS)



O tempo, no decurso da festa se conservou firme, belíssimo, ceo azulado, temperatura agradável.
O povo teve como milagre o fato de ter soprado, 5 dias, forte noroeste, sem agua.
A chuva só veio no dia 16, depois de encerrada a festa.
Lembram os romeiros que, no ano passado , por ocasião da festa, choveu 9 dias seguidos, até o dia 14, e no dia 15, festa do Pilar, amanheceu branda a temperatura, dia lindo, ceu optimo.
O povo, nestes dias claros do 8º mez do anno, acorre ao recinto sagrado, cheio desse clarão imortal da fé e da crença, dessa bemdicta fé que com luz explendente ilumina o infortúnio com seu piedoso e meigo sorriso; dessa bemdicta crença que avassala os corações, para entoar hymnos da paz, preces de amor a virgem Cheia de Graças, numa vibração sonora e de mysticos encantos aflorando com a nobreza de sentimentos, que são o sacerdócio do culto dos bons religiosos.
E o tempo da virgem, com Tropheos de milagres, orgulhoso das galas da santa, literalmente engalanado, parece querer alargar-se para dar logar aquelles que pedem lado para provar a sinceridade de sua veneração, num profundo silencio, num verdadeiro sentimento religioso, o fervor de sua fé, a santa, que em seu templo, branco com ao paz, acena aos navegantes, divinas promessas que a fé infunde nos corações dos que, entre o ceo e o mar, nos dias e nas noites de tempestades, volvem a lembrança para o orago milagroso.
Quando a virgem do pilar, em procissão, sahiu a rua, durante todo o santo passeio, os sinos da matriz, do s. Benedito e do Bom jesus do Saivá repicavam alegremente, esturgiam foguetes, tocavam as bandas musicaes da Policia, Lyra Infantil, e as dos Menores Marinheiros de Paranaguá e salvavam os morteiros, até se recolher o cortejo, após se percorrer as ruas marcadas da cidade e, que, ao entrar, em seu santuário, a virgem do Pilar, abençoa a terra e o povo antoninense, a todos os seus fieis e romeiros.
Preocupou o espirito dos crentes, o facto de, quando a santa passava pela rua 15, quase cahira a sua coroa, porem tal fato não merece aprehensões , porque foi, tão somente, por ter estado a cidade com suas ruas embandeiradas em arcos e ao passar por um deles, os que levavam o andor não o baixaram suficientemente, de modo que a coroa bateu-se nos arcos.
Não foi um mal. Foi a coroa da Rainha do que quis tocar as palmas, as bandeiras e as flores, com que a glorificavam os que a adoravam. .
No pateo da matriz haviam lindas barriquinhas que iluminadas a noite ofereceram lindo aspecto. Appareceram de fora, uns pavilhonetes com jogos – um dos detestáveis e nojentos vícios que putrificam a humanidade – mas que, o zelo precioso do dr. Prefeito e a aplaudida e sensata acção do Tenente delegado, fizeram desaparecer.
A noite, uma rica noite de prata, os clubs abriram, sorridentes, os seus vastos salões.
O Club Antoninense, tradicional de meio século, creado em agosto de 1873 por Hipólito Joaquim Theodoro de Oliveira, presidente; Manoel Pacheco de Carvalho, vice –presidente; João Álvaro de Aguiar, 1º secretario; Antônio José da Luz, 2º secretario; Joaquim Barnabé de Linhares, Thezoureiro, e João Manoel Ribeiro da Fonseca, procurador; deu brilhantíssima nota.
Nesse veterano club não há muito tempo, encantaram com a sua proveitosa acção; Coronel Theófilo, Coronel  Líbero, Coronel Marçallo, Dr Quincas Mendes, José f de O. Marques, João Vianna, Lourenço da Veiga, Polycarpo Pinheiro, Joaquim Muniz, Dr. Cunha Bueno, José Leandro, Alves dos Reis, Joaquim Loyola, Praxedes Pereira, Antônio Soares Gomes, Lauro Loyola, Theófilo Marques, e outros.
No Club 14 de julho, foi um baile a altura de grandes festas. O sympático club, de vibrações de Salvador Picanço, Erasmo Vianna, Sebastião Damaso de Souza (o sempre lembrado Nho-nhô Libanio), Cel. Benigno Lima, Cel. Leopoldino de Abreu, Agostinho Marconi, Coronel Antônio Macedo, Cel. Joaquim Linhares, João Luiz, Arthur de Sá, Alfredo Neves, Carlos Withers, instalado a 14 de julho de 1908, relembra as victórias da sociedade antoninense.
O Club dos Operários primou pela alegria.
Nos três representativos da elite capelista, o enthusiasmo, a cordialidade, a satisfação e o bom tato imperaram.
As bandas da policia, a banda Lyra Infantil, do incansável Maestro Urquiza e a banda dos Aprendizes Marinheiros, constituíram nota chic da festa.
O batalhão da Marinha, com seu garbo, ordem e disciplina, vindo de Paranaguá, e comandado por apreciável oficial, realçou grandemente os festejos.
Em tudo o que participou da festa, que do logar, quer de fora, houve um conjunto harmonioso.
Os festeiros: Exmo Dr. Affonso Alves de  Camargo, presidente do estado; Egberto de leão; Madame general Carlos Cavalcanti. Madame general Adalberto Menezes, e outros dignos cavalheiros e distinctas damas, concorreram sobremodo para a pompa, realce e brilho da festa.
Terminando nossa pálida descripção, terminamos entre saudades e amor do berço – ninho, em apagadas ruinas, cantando:

Há 42 annos – bela sina!
Foi que tive a ventura de nascer
Numa saudosa casa pequenina
Que imprimiu a ternura de meu Ser.
Foi na rua da fonte, em Antonina
19 de outubro. Que praser!
Foi um dia como este. E que divina
Primavera de amor a florescer!
Minha terra natal, risonha e bela,
Onde cantam os marujos, ó Capella
Que eu amo e exalto neste meu cantar.
Bemdicta sejas por teu sonho e brilho
Pela saudade e amor deste teu filho
Pela bençam da Virgem do Pilar!

Octávio Secundino
Curitiba, agosto - 1929



(essa pequena pérola achei no Jornal "A Republica", um dos mais importantes jornais do Paraná na época (clique aqui); é uma descrição, do ponto de vista das "zelites", como era a festa de NS do Pilar. Eram os tempos mais ricos da cidade, que nunca ais teria essa importância nem econômica nem social. )