domingo, 29 de maio de 2016

OBRIGADO, GEOLOGIA!




Obrigado, Geologia!

Eu ainda nem sabia quem era você, e você já estava na minha vida. A Geologia estava nos tijolos da minha casa, no vidro das janelas de minha escola, nos paralelepípedos da minha rua, no mar que banha a minha querida Antonina...

Quantas vezes fiquei na Prainha sentindo o lodo sob os meus pés, ou queimando meus pés nos lajedos da Ponta Da Pita, olhando lá longe o cimo da Serra do Mar, e nem sabia que tudo aquilo era mineral, era rocha, era granito. Quantas vezes, lá em Tamarana, eu ficava com meus pés vermelhos de poeira, ou ia tomar banho nas cachoeiras do rio Apucaraninha e não sabia o que era basalto, o que era arenito.

Obrigado, Geologia!

Obrigado por me fazer ver o pequeno mineral que constrói a rocha que constrói a montanha. Por ver bloco que vira seixo que vira areia que desce da serra que vira lama e vai atulhar o mar. Por ver o veio que vira minério que vira riqueza e que constrói casas, cidades, um país, o mundo.
Obrigado, Geologia, pelas grotas que visitei, pelas drenagens que percorri, pelos morros que subi, pelos frios e calores que já passei. Pelas cidades e pelos países que conheci, obrigado, Geologia!

Você já me levou ao fundo da Amazônia, às veredas do cerrado, às grotas das araucárias, aos píncaros da Serra do Mar! Graças a você conheci as fraldas dos Andes, o altiplano do México, os montes de Sichuan!

Por tua causa, também conheci, Geologia, lugares no fim do mundo, lixões e lugares imundos, grotões que se quer esquecer. Obrigado, Geologia, por me dar o de bom e do pior, meu alento e meu sustento, meu caminho pelo mundo!

Obrigado, Geologia, pelos amigos que fiz e farei, espalhados por todos os cantos! Amigos com quem já compartilhei o fácil e o difícil, barracas no meio do mato, uma casa no fim do mundo, uma fogueira no meio da noite, um gole d´água no fim da trilha, uma cerveja a beira mar.

Obrigado Geologia, por me fazer conhecer tanta gente, tantos mestres, minha medida das coisas, meu sentimento mais fundo!


Obrigado, Geologia, por fazer eu me sentir pequeno, pequeno ser, pequeno instante, na grande história do mundo....

sexta-feira, 27 de maio de 2016

PRECISAMOS FALAR SOBRE ESTUPRO


O estupro é um assunto?

Estive pensando em quantos homens  leem o título de alguma notícia nos jornais e redes sobre este assunto e logo passam para a notícia seguinte: “isso não me diz respeito!”.

Até quando vamos agir assim?

Vivemos num país fundado sobre o estupro. Foi um país cujo avanço “civilizacional” se deu no estupro cotidiano de mulheres escravizadas e submetidas já fazem quinhentos anos. Um país onde os “homens bons” tinham o direito sobre suas esposas e pelas demais mulheres da casa. Aliás, a maior parte dos estupros acontece entre pessoas que se conhecem – no Brasil, seria 68% dos casos (ver aqui).
Somos um país onde o estupro por parte de parentes ocorre no cotidiano das famílias, mas que nunca vem à tona por repressão e vergonha. Ou o estupro se dá dentro do casamento, o estupro marital, ou o estupro como um “direito” do homem em relação à sua mulher. Tudo dentro de quatro paredes, tudo amparado pelos “costumes”. O que acontece em casa em casa deve ficar, não é assim que a gente pensa e diz? Quantos casos de estupro ficam assim impunes?
O estupro tem uma característica perversa: em geral, a culpa é da vítima. Ora a vitima bebeu demais , ora está com roupa provocativa, ora deu mole, ou deu bola, ou qualquer bobagem do tipo. São frases que tipificam mais quem as diz, como foi a frase infeliz (mais uma!) do Cantor Lobão (ver aqui). A culpa é da vítima. É a vitima que sente vergonha, é a vitima que tem que esconder. Por isso, tão poucas mulheres fazem queixa do estupro que sofreram.
Esta perversidade também se revela no estupro como castigo: um exército invasor estupra as mulheres das zonas invadidas. Nas guerras modernas, as mulheres capturadas nas zonas de conflito são convertidas em escravas sexuais, como foi na Bósnia, como atualmente é na Síria/Iraque com o ISIS. Não por acaso, durante a guerra civil na Líbia, Muammar Gadaffi, antes de ser morto foi estuprado pelos seus captores como símbolo de sua “desonra”.
Com isso chegamos à questão da “Cultura do Estupro”, como vem se referindo a imprensa em relação ao caso escandaloso que estamos vivendo (quem acaba de chegar de marte leia aqui). Embora nos horrorize, não podemos nos espantar com os comentários e a apologia do estupro feitas na web. É assim que nós homens somos ensinados a pensar. uma frase terrivelmente infeliz é a famosa "se o estupro é inevitável, relaxa e goza". Como se a infeliz vítima fosse compartilhar do prazer doente de quem a violenta. Assim é nossa sociedade. Um dos xingamentos mais sérios que nos fazemos não é por acaso um desonroso “vai te foder”?
Também não por acaso Jair Bolsonaro (um dos mais perversos cultores do estupro em nosso país), para humilhar a deputada Maria do Rosário numa discussão sobre Direitos Humanos, disse que ela não merecia sequer ser estuprada (aqui). Aliás, Nicolas Sarkozi disse no passado coisa semelhante de Ângela Merkel. No passado Paulo Maluf foi o autor da famosa "estupra, mas não mata". Houve, nos momentos mais sombrios dos atos contra a presidenta Dilma, por si mesmos extremamente sombrios, falas insinuando estupro.
Devemos mudar nossa cultura. Isso passa pelo respeito e valorização da mulher, de todas as mulheres (veja mais aqui). Não importa se é na índia, na Alemanha, na Síria, no Rio de Janeiro ou dentro de nossa casa. Nós homens temos que mudar esta cultura. Chega de pensar que isso é um assunto “de mulher”. Chega de dar as costas para o sofrimento de tanta gente. Chega para o acobertamento de ações criminosas e que gera tantas vitimas, tanta gente sofrendo e, pior -  sentindo uma vergonha e uma culpa que não são merecidas.
Se não o fizermos estaremos endossando com nossa silenciosa omissão mais esta violência.


Sim, o estupro é um assunto. E um crime. Deve ser discutido, combatido e condenado. Por todxs. 

quarta-feira, 25 de maio de 2016

O TEMPORA! O MORES!


Registro da reunião que mudou o rumo da Educação no Brasil...
Como já dizia Cicero no Senado Romano – “Que tempos! Que costumes!”. A desfaçatez já nada teme, a sabedoria de nada vale. Vivemos realmente num tempo difícil em que as pessoas não têm mais pudor em exibir sua ignorância e preconceito para todos verem. Não há nada mais feio do que a ignorância que se acha, a ignorância sem espelho em casa. Pior, estas pessoas ainda declamam arrogantemente sua ignorância nas ruas nas conversas e nas redes sociais como se estivessem falando de uma pia e devota peregrinação a Jerusalém...  
Não bastam os ataques e as interpretações (demasiado livres, diga-se de passagem) sobre nossa situação institucional, ainda temos que ver o ministro golpista da educação receber  - quem? Alexandre Frota e o tal do Marcelo sei-lá-quem para discutir os rumos da educação brasileira (ver aqui).

Onde iremos parar, caras-pálidas?

É o cúmulo do escárnio. Um ministro – por mais golpista que fosse, o qual deveria estar cuidando das politicas da educação, que é um dos principais gargalos deste país, passa o tempo a tratar com arrivistas e sub-celebridades que estarão lá para dar suas “ideias” para ajudar  o pais que “eles” amam.  
Já tivemos ministros da educação abomináveis – Suplicy de Lacerda, Jarbas Passarinho, Ney Braga, o general Rubens Ludwig, só pra citar os do regime militar – pouco preocupados com educação de qualidade, com aumento no nível de cultura do país e outras causas de estado. O Brasil perdeu durante os anos 60 a chance de melhorar radicalmente a educação e aumentar o patamar de inteligência da nação como o fez com sucesso a ditadura sul-coreana, militar e de Direita como a nossa.
A nossa preocupação é sempre com o perigo da Senzala. Nossas “zelites” (aí incluída a classe média que “pensa” que é elite) morrem de medo da Senzala. “Educar pra que?”: era assim que falavam os coronéis do interior do Brasil para justificar que a massa permanecesse  iletrada. A massa trabalhadora, as mulheres em casa, ninguém deveria ter acesso a nada que cheirasse a educação.
Hoje, o mote é outro. As sub-celebridades que foram ao ministro levavam sua preocupação com a dita escola “partidária”. A preocupação é que as pessoas tenham uma educação que as torne mais criticas. Isso, segundo eles, seria “partidarizar” a educação. Ninguém está preocupado com melhorar o nível de nossa educação, com melhorar as condições dos professores, com melhorar os métodos de ensino. Não estamos nesta situação porque os governos e mesmo nosso amado povo não tem um real compromisso com a educação, que seja dita a verdade. Nossa educação está assim porque é “partidária”.
Vamos voltar então a estudar que Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil por acaso, que a independência do Brasil foi feita porque um príncipe português gritou com a espada levantada à beira de um riacho nauseabundo. Eu aprendi, numa escola “não-partidária” que frequentei na minha infância, que os militares derrubaram um governo legitimamente eleito porque estavam salvando o Brasil....
Os arautos da Direita nas redes sociais adoram chamar os outros de “apedeuta” (consulte o google se você não sabe o significado). Lula seria o apedeuta dos apedeutas. Alias, escreva apedeuta no google e verá a ligação que os algoritmos fazem entre o nome “lula” e a palavra “apedeuta”.
(O que estas pessoas não falam e não querem falar que, por mais que se fale de Lula, ele jamais pode ser chamado de apedeuta. Chamar Lula de apedeuta é mais um dos muitos sintomas de preconceito social que temos, é a vingança dos que tem um carro na garagem contra um sertanejo que, contra todo o destino, venceu as barreiras de nossa sociedade de castas e teve por duas vezes o mérito de ser o presidente do país. Lula pode ser muitas coisas, mas burro com certeza ele não é. )
Acontece que muitas pessoas não são ignorantes porque querem. Muitas pessoas não tem acesso a um ensino de qualidade, e muitos sequer tiveram acesso ao ensino formal. Quantas vezes vemos exemplos de pessoas que, na velhice, vão para os bancos escolares para melhorar sua compreensão do mundo. A nossa sociedade de castas se revela no acesso que cada um tem ao ensino. Democratizar o acesso? Como? Estudar pra quê?, entoam nossos jovens de Direita, ecoando os coronéis de antanho. Pobres na universidade? Cotas?
Nenhum pais industrial moderno cresceu sem alavancagens sociais. Os Estados Unidos por anos tem sistemas de cotas raciais. Depois da segunda guerra mundial criou o “GI Bill”, um PROUNI para os soldados que vinham de vencer a segunda guerra. Sem um mínimo de alavancagem, ninguém sai de sua condição econômica e social. Não querer isso é ter o olhar no seu privilegio de classe, sem enxergar politicas mais abrangentes – de Estado – para melhorar a educação.
Com isso, voltamos ao “encontro” desta bela tarde de 25 de maio. Um ministro vinculado ao ensino pago e desclassificados preocupados com a “partidarização”. Cena que com certeza deixou o “Sensacionalista” e todos nós perplexos. Alexandre Frota é um desclassificado não porque ele foi ator “sério” que descambou para o pornô; a profissão de ator pornô pode ser digna para quem a exerce com dignidade. Alexandre Frota é a mais cabal demonstração de apedeuta que eu conheço. Ele não é um ator, é um lumpem. Alguém que teve acesso a um mínimo de educação e que trata da educação com desprezo. Trata o saber com escarnio. Quando foi a ultima vez que ele veio aproveitar de seu papel de sub-celebridade para falar sobre temas de educação?

 É este o dialogo que tem ocupado a educação brasileira. É esse o caminho que vamos trilhar.


Foi realmente pra isso que você bateu panelas e gritou “fora Querida”?