sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

ANTONINA ANTIGA - V



A Praça Carlos Cavalcanti, em Antonina. A foto é antiga. Talvez seja uma das fotos do folheto propagandístico do Dr. Heitor Soares Gomes, o prefeito municipal do período mais pujante da Deitada-à-beira-do-mar, no inicio do século XX. A foto, portanto, pode ser de meados dos anos 20. A foto original do PowerPoint era um xerox velho, apagado e manchado assim como nossa memória. A foto estava em algum fichário antigo, desses de furar, pois se vê dois furos na lateral esquerda da foto. Por baixo, um belo pedaço de papel tigre (o qual, se faz favor de explicar, porque era que o papel tigre era papel verde?). Enfim, antigamente, meninos, papel tigre, esse papel verde aí era o papel de que se encapavam os nossos cadernos de escola. Encapar cadernos? Alguém ai se lembra do que é?
De quando é a foto? Parece bem antiga. O chafariz estava sendo construído, talvez. Não há ali nenhum sinal das arvores da praça, as quais conheço bem. O coqueiro, ao que tudo indica está mais baixo, era um jovem ainda, não a grande e imperial palmeira que nos embeleza a praça. Hoje, de tão alto, o coqueiro sequer apareceria nesta foto, pelo menos não por inteiro. Atrás de tudo, ao fundo, está o mato do morro, o mesmo mato do morro que está ali desde os imemoriais tempos do onça. Do buraco da onça.
Dominando a foto, e a praça, está o belo prédio neoclássico da estação ferroviária. Belo, com suas colunas coríntias (sem qualquer trocadilho) seus grandes janelões, seus capitéis e seu belo relógio. Aliás, como sempre perguntava meu pai, onde foi parar o relógio da estação? Tudo podia parar, menos o relógio da estação, qual Big-Ben dos bagrinhos do século XX, marcando o horário de chegada e partida dos trens. Onde anda o tal relógio? Será por isso que parece que o tempo na cidade parou, ou caminha mais devagar? Onde está o relógio? Onde estão os trens?
A Praça Carlos Cavalcanti pra mim ainda é a “Pracinha da Estação”, onde brincávamos de um monte de coisa, onde jogávamos bola, com meus amigos Zé Paulo Azim, Marcos Cruz, Robertinho, Lídio, Valmor, Jorginho Fayad e tantos-tantos outros. Ali naqueles bancos também dei minhas primeiras paqueradas, as primeiras e timidíssimas tentativas de entender – quem há de? – o universo feminino. Tempos bons, os da juventude.  Ainda bem que desperdiçamos esse tempo tão bom em andar de bicicleta, jogar bola (muito) e namorar (pouco).
 No entanto, lamento dizer, não gosto desta foto. É de uma praça que ainda não era nossa, de um tempo que parece que não tem gente. É foto de propagando política, estão mostrando as obras de um prefeito realizador, por isso mostram obras e prédios, com o coqueirinho ainda tímido do lado e o mato verde e exuberante no fundo. Na frente, os tijolos, o cal, as coisas em trânsito de se fazerem. O progresso, como um novo Fausto, vendendo a alma à Don Lúcio Fer por um punhado de votos, ou um mandato de deputado estadual. Merrequinhas. De que nos importa isso? O que vale são as crianças brincando, os velhos descansando, os turistas passando ali e vendo o conjunto arquitetônico do Dr Heitor Soares criando a Antonina mítica que nós, do final do século XX pra cá nunca vimos mas sempre sonhamos. Repito: não gosto da foto da praça vazia. Sem gente, a pracinha da Estação não tem graça. 

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