segunda-feira, 9 de abril de 2012

BAGRES E ROTULOS


Na crônica anterior, eu comentei a falácia de que o Meio Ambiente é responsável pelo desemprego urbi et orbi, ou seja, em Antonina e no mundo. Falácia, segundo os dicionários, é  “argumentação enganosa com aparência de verdadeira”. Consultem a wikipédia.
A gente muitas vezes tende a rotular, como uma necessidade social. Aquele sujeito é “o velho da rua de cima”, “o cara do caminhão de verdura”, “a gostosa da padaria”. Com isso, evitamos ter que acessar desnecessariamente o disco rígido com informações sobre o velho da rua de cima, identificando-o como o Sr. Aderbal Pimenta, de 69 anos, casado com dona Tereza, pai da Solange e do Marcos, metalúrgico aposentado, que fez uma operação de catarata no hospital São Clemente na semana passada. Esse é o velho da rua de cima sem o rótulo. Deixo o cara do caminhão de verdura e a gostosa da padaria pra imaginação de vocês.
Rotulamos por simplificação. O “japonês”, o “gringo”, o “burguês filho da puta”, o “mauricinho” e a “patricinha”, o “ecologista xiita” são alguns rótulos que acabamos pregando nas pessoas com as quais não temos contato, ou nosso contato é superficial. O primo Alexandre pode ser um ecologista xiita, mas sabemos dele que também gosta de repolho, que torce pro Paraná clube (coitado!), que fez Biologia na Federal e ganha um salario de fome na ONG de preservação das baleias e que, afinal das contas, é um bom sujeito. Ou seja, quanto mais conhecemos a pessoa menos usamos rótulos para julga-la.
Escrevo isso porque às vezes vejo umas manifestações – sempre anônimas, por certo – na nossa capelista blogosfera que me preocupam. Uma delas é rotular as pessoas que trabalham com meio ambiente: ecochato, xiita e outros. Por desconhecimento, atribuem-se aos ambientalistas posições que estes, ao menos publicamente, nunca tiveram. Ninguém que eu saiba, é contra a dragagem do porto. A ADEMADAN, inclusive, colabora com ideias e pesquisas para melhorar as condições ambientais do porto (veja aqui).
Por outro lado, quando se quer recuperar os impactos ambientais das grandes obras realizadas antes das leis ambientais, como foi o caso dos royalties da Capivari-Cachoeira, o que aconteceu? Em vez de haver uma ação só, numa patetada histórica, algumas pessoas, entre elas alguns vereadores, partiram para constituir uma leva de ações individuais. Comentei isso aqui no meu blog. Ou seja, quando o meio ambiente envolve dinheiro, todos querem o lucro privado, em vez de uma grande ação comum que beneficie a todos. No fim da história, os royalties da usina, que é a maior responsável pelo assoreamento recente da baia, conforme apontam alguns trabalhos científicos (ver aqui) ficou reduzida a uma triste corrida pela farinha pouca.
Ou seja, quando o cara é contra meus interesses, ele é o chato, o xiita, o fidaputa. Quando ele vai em busca de interesses coletivos (ou difusos, segundo a constituição) ele é um pateta: o negócio é ir atrás do dindim privado. E que se dane o assoreamento da baia. Quando vem alguma noticia que isso prejudica o porto, parece que só estas pessoas são a favor do desassoreamento. No entanto só se lembram do assoreamento quando diminui a carga de trabalho no porto. No resto, vão tomar cerveja na feira-mar e nem enxergam aqueles bancos de areia que se acumularam ali depois da construção da usina e que hoje já são ilhas. Difícil, difícil. Ainda mais quando ninguém dá a cara a tapa e vão todos covardemente se esconder no malcheiroso edredom do anonimato. 

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