sábado, 11 de julho de 2015

O PRÍNCIPE DA BEIRA, OU A ANTONINA QUE PODERIA TER SIDO

Retrato de Dom Francisco Antônio, Príncipe da Beira (1795-1801) achei aqui

Parece muito estranho. O que este fundo de baía, cercada de mangue e mato, tem a ver com um obscuro príncipe português que nunca saiu das fraldas?
Antonina, e isso aprendemos desde cedo, foi uma homenagem ao príncipe português Dom Francisco Antônio Pio de Bragança, filho do Príncipe D João e da princesa Carlota Joaquina. Herdeiro do trono português, o real guri tinha o titulo de Príncipe da Beira.
Nascido em 21 de março de 1795, o jovem príncipe, na época em que recebeu a homenagem, ainda era um simpático pimpolho que usava fraldas. A pintura-retrato que temos dele mostra sobretudo um menino moreno, de cabelos encaracolados muito meigo e muito, muito pálido. Encostado na mesa, ao seu lado uma maçã flechada. Que diabos era isso, o símbolo do amor?
Dom Francisco Antônio, no retrato, vestia uma camisa com babados e ostentava a faixa alvirrubra que seu principesco título de príncipe da Beira exigia. Seu olhar é triste, com olheiras profundas. Vontade de tirar o piazinho dali e levar ele pra tomar sol na Ponta da Pita. Ou passear pelo trapiche olhando os barcos e os urubus ao redor, pra ver se ele se animava. Quem sabe? Uma vitaminazinha, um caldo da cana?
Enfim...
Mas Dom Antônio, nosso pueril Príncipe da Beira, nada tem a ver conosco senão a homenagem que lhe foi prestada. A homenagem, assim, parece um investimento para o futuro. Como a compra de um titulo de capitalização, alguém queria receber no futuro do futuro Rei de Portugal alguma vantagem.
Posto em outros termos: o nome Antonina foi homenagem de quem? A quem interessaria? Quem seria o puxa-saco lá daqueles tempos?
A primeira suspeita paira sobre outro Antônio, Antônio Manuel de Melo e Castro de Mendonça, Governador Geral de São Paulo naqueles tempos. Seu mandato, porem, começou em 28 de junho de 1797. Será que o processo já se teria anunciado antes que este tivesse tomado posse? Se for ele, quais seriam suas motivações?
O fato é que a homenagem ao pequeno príncipe, que seria o futuro rei de Portugal, acabou em nada. Como acontecia com quase todos os herdeiros do trono lusitano, os filhos mais velhos morriam muito cedo, e o fardo de conduzir o império ultramarino português despencava nas costas dos irmãos mais novos e mais despreparados. Dom Antônio acabou morrendo em 11 de junho de 1801, aos seis anos de idade. Quem acabou assumindo o poder, anos depois, foi o nosso conhecido Pedro de Alcântara.
E nós aqui? No inicio a cidade se grafava “Villa Antonina”, assim tudo junto. Ou, a vila de Antônio. Assim encontramos toda a nossa documentação no período colonial.  Lá pelo meio do caminho, durante a Regência e o Segundo Reinado, segundo o inescapável Ermelino de Leão, é que se abandonou a forma antiga e se tornou simplesmente Antonina.
Houve no passado (leia-se século XX) quem não gostasse do nome da cidade, ou da intenção no nome. Achavam que estava no nome e na homenagem uma explicação pelos males que a cidade atravessou nos últimos cinquenta anos (é claro!). Acharam de procurar uma origem no grego “Antos”, flor. Vem daí o verso “Antonina cidade das flores”, que foi pespegado em um de nossos hinos. De suave e finíssimo olor? No meio do manguezal? Acho que este poeta tinha problemas no nariz...
O príncipe Dom Antônio partiu cedo. O investimento feito em sua homenagem morreu ainda em botão, mas a vila á qual emprestou o nome prosperou. Antonina foi uma bela e futurosa cidade, cheia de riqueza, alegria, encanto e beleza. Ainda tem tudo isso, menos a riqueza, que foi embora ao ultimo apito do trem. Ou foi soterrada pelos sedimentos que assoreiam nossa baia.
Será que seria diferente se o nome da cidade fosse Pilar da Graciosa? Ou Guarapirocaba? Será que o príncipe Dom Antônio, se tomasse um caldo de cana todo dia na feira-mar, ou comesse bagre com pirão do mesmo na praia do polacos sobreviveria e, já rei, nos faria melhores e mais felizes? É sempre uma tentação ficar imaginando como seria nosso presente se nosso passado fosse outro.

Mas o fato é um só: entre o mangue e o mato mora uma gente como não tem igual, num cenário que é uma beleza que a natureza criou, como disse o poeta (e enfatiza o geólogo). Nossa Deitada-a-beira-do-mar encanta e encanta. Devemos nos orgulhar do que somos e do que conseguimos. Não é muito? Também não é pouco...

quinta-feira, 2 de julho de 2015

HENRIQUE LAGE E O COMEÇO DO FIM DE ANTONINA

Henrique Lage (1881-1941) e sua esposa, a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni (1888-1962)

Há exatos 74 anos atrás, falecia no Rio de Janeiro o empresário Henrique Lage. E nós, bagrinhos, o que temos com isso?
Nascido no Rio Henrique Lage foi um dos grandes capitães de indústria do Brasil no inicio do século XX. Nascido no Rio em 14 de março de 1881, era  filho mais velho do comendador Antônio Lage, importante empresário e dono de diversos negócios nas áreas de carvão, estivas e pequenas embarcações, além de um estaleiro para consertos navais. Com o advento da Republica diversas empresas de navegação estrangeiras foram nacionalizadas. Comprando o acervo da Norton- Megaw & Co, Antônio Lage fundou, em parceria com Luiz Augusto Ferreira de Almeida, a Companhia Nacional de Navegação Costeira, que foi durante muito tempo a principal empresa de navegação do país.
A Costeira, como era conhecida, ficou famosa por seus navios, os quais começavam todos com o nome Ita. A marca ficou tão importante que ITA passou a quase ser sinônimo de navio. Quem não se lembra do grande sucesso de Dorival Caymmi nos anos 40/50, “peguei um Ita no norte”?
Henrique Lage formou-se em engenharia Naval nos Estados Unidos, em 1909. Juntamente com seus irmãos, sucedendo o pai na direção da Lage e irmãos – que ficou conhecida como o Império Lage – Henrique Lage foi um empresário incrivelmente dinâmico. Aproveitou a onda de substituição de importações durante a 1ª Guerra Mundial e ganhou muito dinheiro vendendo navios, que fabricava no seu estaleiro na ilha do Vianna, em Niterói, e carvão, com o porto de Imbituba, em Santa Catarina. Também fundou a primeira refinaria de sal brasileira, que consagrou a marca "sal Ita". Foi também pioneiro da indústria da aviação, com a construção de aviões de pequeno porte no Brasil.
Empresário nacionalista, Henrique Lage se orgulhava de fabricar no Brasil navios e aviões, com poucos componentes importados. Seu período de maior crescimento e atividade foram os anos 20. Nos anos 30 teve algumas dificuldades econômicas, mas consegui manter o grupo.
Em Antonina Henrique Lage tentou realizar projetos de uma siderúrgica, para atender seus projetos navais na ilha do Vianna, em Niterói. Contudo, seu vinculo com a cidade estava principalmente em suas companhias de navegação, o Lloyd Nacional e a Costeira, que faziam a navegação de cabotagem e integravam a Deitada-a-beira-do-mar ao circuito da produção nacional.
Entretanto, a navegação de cabotagem estava com problemas, e dependia em muito de subsídios governamentais. Em 1941, a Comissão de Marinha Mercante suspende as subvenções pagas às empresas de navegação. A Costeira e o Lloyd sofrem o baque e tem sérios problemas financeiros. Como compensação, o Governo Vargas primeiro concede empréstimos a companhia.
Quando Henrique Lage morre, em 2 de julho de 1941, o Governo vai tomando conta da companhia, que é reestruturada. Sua viúva, a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni, é afastada da direção das empresas, sob o pretexto de não ser brasileira. Em setembro de 1942, com a declaração de guerra as nações do eixo, as companhias são nacionalizadas.
Em Antonina, dependente da navegação costeira, o baque é tremendo. Para evitar a crise, os famosos quatro escoteiros são mandados ao Rio com uma carta onde pedem a reabertura dos escritórios do Lloyd Nacional e da Costeira na cidade. Essa parte do filme já vimos.
Henrique Lage foi um industrial que conseguiu fazer multiplicar as organizações  que recebera de herança, fazendo do tripé carvão, navio e ferro o eixo de seus negócios. Trata-se de um empresário arrojado e obstinado, que não temia fazer altas apostas. No entanto, apesar de suas boas relações com Getúlio Vargas, o estado novo por fim engole o Império Lage.
Hoje seu nome é lembrado no Rio com o Parque Lage, antiga propriedade sua ao pé do morro do Corcovado. Em São Paulo, A REVAP, ou refinaria do Vale do Paraíba, em São José dos Campos, também é conhecida como Refinaria Henrique Lage.

Antonina? Antonina fica a ver navios... 

quarta-feira, 1 de julho de 2015

ACONTECEU ASSIM...O MES DE JULHO NA CAPELA!!



02/07/1941

Falecia, no Rio de Janeiro, Henrique Lage

04/07/1854

Falecia, em Morretes, Antônio Vieira dos Santos

11/07/1801

Falecia, em Lisboa, o príncipe Dom Antônio

14/07/1927

Fundado o Clube Atlético Antoninense

20/07/1873

Inaugurada a Estrada da Graciosa

25/07/1879

Nascia Davi Antônio da Silva Carneiro

25/07/1936

Fundado o Sindicato dos Arrumadores de Antonina

28/07/1923

Nascia, em Curitiba, Julia Alves (Graciano) (Nhá Gabriela)

30/07/1949

Falecia o escoteiro Milton Oribe