sábado, 20 de fevereiro de 2016

O GRANDE DIA TINHA CHEGADO - parte 2

Página do jornal A Noite, de 20/fev/1942, mostrando fotos dos escoteiros com Getúlio Vargas. Como uma caricatura dele mesmo , GV trajava tern de linho branco e tinha sempre a mão seu havana. Ditadores são sempre simpáticos, difícil mesmo é a banalidade da democracia...

Getúlio Vargas veio para a solenidade vestido com um terno de linho branco, palheta, gravata borboleta e do seu inseparável charuto havana. Parece quase uma caricatura dele mesmo. Era um  clichê, paletó de linho branco e tudo, que vinha ali descendo a alameda do Palácio Rio Negro, acompanhado de dois majores aviadores, Cantalice e Rolim. O comandante Rolim havia vindo junto com a caravana dos escoteiros.
A imagem do presidente descendo sorridente a alameda deve ter realmente magnetizado os cento e cinquenta rapazes ali presentes. Lydio nos conta que “aos poucos ele veio se aproximando com seu sorriso de cativar”, sorrindo a acenando para os presentes. Ali estavam setenta escoteiros de Santa Maria, no Rio Grande do sul, que compunham a “Caravana Henrique Dodsworth”, que homenageava o intendente do Distrito Federal durante o Estado Novo.  Havia também a tropa mais numerosa, cerca de oitenta escoteiros paulistas, a maioria proveniente de Piracicaba e Campinas. E a pequena Patrulha Touro, representando a Tropa Vale Porto de Antonina, Paraná.
Estavam ainda presentes um repórter oficial e um fotógrafo do famigerado DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo), vários jornalistas credenciados e “uma porção de crianças e mocinhas”, segundo o testemunho de Lydio. Segundo a edição do dia seguinte de A Noite, o presidente havia sido surpreendido pela caravana escoteira durante a sua caminhada. Mas, como vinha até ali acompanhado do major Rolim, um dos integrantes da Caravana, isso parece pouco provável.
O General Heitor Borges, que era o presidente da UEB e idealizador do evento e da Caravana, chamada “Caravana Presidente Vargas”, fez as saudações. Segundo a reportagem do jornal A Noite, o general saudou o presidente num breve discurso e, em nome da Caravana, disse que os escoteiros estavam ali para expressar seu reconhecimento “pelas atenções que tem recebido”. A seguir, começaram as entregas das mensagens.
Os escoteiros gaúchos fizeram a entrega de um livro de madeira com gravuras em relevo. Os escoteiros paulistas entregaram, por intermédio de um lobinho, um enorme gomo de bambu envernizado também todo entalhado e com a mensagem em alto relevo. Foi então que chegou a vez dos escoteiros antoninenses. Milton Horibe deu um passo à frente e tendo a mão um pergaminho disse: “A mocidade de meu estado lhe envia, por nosso intermédio, suas saudações e seus cumprimentos”. Ao que Getúlio lhe respondeu: “essa vossa ação revela coragem, antes de tudo. Isso dá uma demonstração do caráter nobre e da fibra moral do escoteiro”.
Não se sabe o quanto estas frases e gestos foram pensados e ensaiados, como que escrevendo frases para ficar na história. Estas, com algumas pequenas modificações, são as frases do diário de Lydio e o dos jornais que noticiaram os fatos, como A Noite ou o Diário de Notícias. Mas o que transparece no diário de Lydio é a profunda emoção daquele encontro. Conta-nos ele que, depois desta troca de frases grandiloquentes, Getúlio aproximou-se e “abraçou-nos demoradamente”.
O Diário De Noticias relata ainda que o general Heitor Borges depois disso dirigiu-se ao presidente num também breve discurso, colocando-o a par das atividades a serem desenvolvidas pela UEB naquele ano, o que teve boa recepção por parte de Getúlio. Este, depois da pequena cerimonia, despediu-se e todos e, com seu havana nas mãos, foi para a sacada do palácio Rio Negro, de onde assistiu o desfile dos escoteiros ao som da Banda do 1º Batalhão de Caçadores.
Lydio relata que os “outros documentos” que haviam trazido, foram depois entregues ao ajudante de ordens do presidente.

A missão estava cumprida. Agora, restava a volta. 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O GRANDE DIA HAVIA CHEGADO - parte 1

O Palácio Rio Negro, em Petrópolis, onde os escoteiros de Antonina encontraram-se, finalmente, com Getúlio Vargas em 1942
O grande dia havia chegado.
No quartel, todos estavam agitados, com os últimos preparativos para a viagem a Petrópolis, para ver o Presidente Vargas. “O reboliço era demais”, anota Lydio Cabreira em seu diário. Desde as 6 da manhã havia um intenso corre-corre de rapazes arrumando os uniformes, escovando os dentes, penteando os cabelos, colocando os lenços, os chapéus, os cintos, e toda a farda escoteira da época.
Os escoteiros seguiram em carros de choque da policia do exercito para Petrópolis, onde veraneava Getúlio Vargas. Só um escoteiro não foi. O chefe Beto, logo o chefe Beto, tivera que ir ao banheiro e havia perdido o transporte. Segundo Lydio, ele e seus colegas em vão apelaram aos chefes escoteiros para que esperassem por ele. Mas não. As 7:00 foi dada a ordem de largada. Os caminhões se foram e o chefe Beto ficou.
Lydio nos conta o trajeto: seguiram pela Quinta da Boa Vista, São Januário, Bonsucesso, Ramos, Penha, Vigário Geral. Quando os caminhões pegaram a Rio-Petrópolis, Lydio se encanta: aquela era “a rodovia mais bonita que eu já havia visto”. Não era para menos. Reconstruída a partir da antiga estrada imperial, a estrada foi remodelada por Washington Luiz, que a reinaugurara em 1928. Durante muito tempo, foi considerada a melhor estrada da América do Sul. Lydio nos conta que a rodovia era asfaltada e, em alguns locais, cimentada. Nas laterais da estrada as amuradas eram presas por cabos de aço, para evitar acidentes. Havia muitas pontes. As pontes em formas de arcos encantam Lydio: “eram verdadeiras maravilhas da engenharia brasileira”, comenta.  
A estrada era muito sinuosa, correndo por entre as matas de intenso verde. Os rapazes se encantam com sua beleza. A estrada, em alguns trechos era cavada na rocha. Para Lydio, estes trechos apresentavam “o aspecto de uma paisagem europeia”. O clima ia ficando mais frio na medida em que subiam. As matas verdejantes colaboravam para que o clima tropical fosse amainado e seu ar fosse de uma pureza total, conforme anotou Lydio.
A comitiva chegou em Petrópolis por volta das dez e meia. Os veículos seguiram para o quartel do 1° Batalhão de Caçadores, uma das tropas de elite do Brasil na época. Logo a seguir, os rapazes assistiram no pátio interno do quartel a uma parada militar de toda a corporação para homenagear o General Heitor Augusto Borges e sua comitiva. O general, que já era conhecido dos rapazes de Antonina, era uma das figuras mais importantes neste momento, e também era chefe da União dos Escoteiros. Era ele que estava por trás daquela solenidade.  
Depois da parada, os escoteiros fizeram o rancho nos refeitórios do quartel, e logo a seguir foram ao Palácio Rio Negro, onde ia ter início a solenidade daquele dia. O palácio era um belo prédio art nouveau construído pelo Barão do Rio Negro nos últimos anos da monarquia. Na Republica, o imóvel foi adquirido pelo estado, transformando-se no palácio de verão dos presidentes brasileiros. De todos eles, quem mais fez uso do palácio sem dúvida foi Getúlio Vargas. Não houve um verão em seu governo que ele lá não estivesse.
Enquanto isso, nos jardins do Palácio, os escoteiros, enfileirados, estavam impacientes. já estavam por lá aguardando havia meia hora quando o presidente finalmente apontou numa esquina. Getúlio Vargas, todo de branco, vinha a pé, depois do passeio que costumeiramente fazia após o almoço.

Um grande alvoroço tomou conta da tropa. 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

UM CARNAVAL NO ESTADO NOVO - FINAL

Foliões dançam na Avenida Rio Branco, no Centro do Rio, nos bailes públicos do carnaval de 1942; os rapazes antoninenses estavam por ali...
Finalmente o ultimo dia do Carnaval de 1942 havia chegado. Aí, sim, não teve o que segurasse os rapazes dentro das rígidas normas do Colégio Militar. Quem seguraria os rapazes ali alojados com o maior carnaval do Brasil rugindo ali na frente e fazendo tremer as casas?
Segundo o diário de Lydio, eles saíram bem cedo e voltaram bem tarde. Neste ultimo dia, o ponto preferido dos rapazes foi a Avenida Rio Branco. Foi uma mudança que foi se operando devagar no carnaval do Rio de Janeiro, com os desfiles paulatinamente migrando da praça Onze, em obras para o surgimento da nova Avenida Getúlio Vargas, para a Avenida Rio Branco.
A Avenida Rio Branco era o pedaço da maior animação e, segundo Lydio, era também o ponto das maiores brigas. A todo o momento os blocos de sujo saiam praticando o que Lydio chamou de “malvadezas”, assim mesmo, entre aspas, com as folionas que “desse bola”. Eram os onipresentes engraçadinhos que mexiam com a mulher dos outros. O resultado eram tumultos. Por vezes, segundo o relato, surgiam as “peixeiras” e alguém se feria com gravidade. Se hoje em dia isso ainda é comum, é de se imaginar que as brigas e a violência no carnaval fossem muito mais letais que hoje.
Os bares e cafés das imediações da Avenida Rio Branco neste ultimo dia de carnaval estavam lotados, e não venciam a demanda da freguesia. A região estava cheia de gente. Lá pelas 15 horas uma equipe da Radio Nacional colocou altos falantes ao longo da avenida e logo se formou um monumental baile ao ar livre. Todos pulavam e cantavam as musicas deste e de outros carnavais. Lydio anotou “A Jardineira”, “Praça Onze” e “Mamãe Eu Quero”.
Na verdade este foi um carnaval muito rico de novas canções. É o ano em que surgem alguns grandes “hits” do carnaval, como “A Mulher Do Leiteiro”, “Nós, Os Carecas” e principalmente “Está Chegando A Hora”. É um samba de Henricão e Rubens Campos, uma adaptação da valsa “Cielito Lindo”, de A. Sedas e F. Tudela, cantado por Carmem Costa. Carmem era empregada doméstica na casa de Francisco Alves, e lançou neste ano o samba que e que consagrou como uma das grandes cantoras brasileiras e está até hoje na cabeça do povo.
Luzes coloridas foram acesas quando chegou a noite. O espetáculo prosseguiu com desfiles de carros alegóricos. Os desfiles não eram como os desfiles de hoje. Eram desfiles de sociedades e clubes, em carros alegóricos com temas carnavalescos. Enquanto isso, na Praça onze, havia o desfile das escolas de Samba. Naquele ano, numa disputa apertadíssima, a grande campeã foi a Portela, com o enredo “Vida no samba”. Em segundo lugar ficou a “Depois eu Digo” , com o samba “uma noite feliz” e, mais atrás na pontuação, a eterna Estação Primeira de Mangueira, com o samba “A Vitória do Samba nas Américas”.
Na avenida Rio Branco, vendo os desfiles das sociedades, Lydio nos conta que eles traziam belas garotas de maiô, com belas pernas de fora e rebolando sem parar. “Aquilo deixava os marmanjões com água na boca”, diz ele, também boquiaberto. Mas Lydio não estava só de água na boca. Eis que, lá numa linha, ele nos diz que estava assistindo o desfile “agarrado à Lurdinha”, e não queria mais nada da vida. Com certeza queria. Não sabemos mais nada de Lurdinha, mas com certeza todos sabemos como são os amores de carnaval e ainda mais para jovens adolescentes. Que bela e inesquecível noite deve ter sido!
Mas o carnaval de 1942 ia acabando. Eram quase onze da noite. Encerrando o desfile vieram as grandes sociedades: clubes sociedade dos tenentes, sociedade fenianos, pierrôs da caverna e outros de que Lydio não conseguia lembrar. Quando regressaram ao alojamento, os rapazes ainda escutavam os cantos de nostalgia:“É hoje só só só../Vai se acabar já já já!”...
E assim os rapazes se despedem também do carnaval carioca. Lydio ainda nos diz que espera um dia voltar a vê-lo novamente. Mas, antes disso, muito antes disso, eles tinham uma missão a cumprir: entregar a carta para o presidente.
Será que conseguiriam?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

UM CARNAVAL NO ESTADO NOVO - parte 2


O Centro e a Zona Norte visto do Corcovado (1940)
(continua a saga dos escoteiros antoninenses no Rio, no carnaval de 1942, antes de entregarem a mensagem a Getúlio Vargas; livremente baseado nos diários do escoteiro Lydio Cabrera) 

Na segunda feira os escoteiros tiveram que passar a manhã de castigo. A punição por ter ficado tempo demais no carnaval e entrado tarde no alojamento foi a arrumação dos quartos e dos banheiros do Colégio Militar, onde estavam alojados. Lydio ficou arrumando camas, mais de 90, segundo ele. Milton varreu os três alojamentos e Canário lavou e secou os cinco banheiros. E lavaram rapidinho, por que senão não iria ter passeio para eles.
O dia foi de passeios e caminhadas com os outros escoteiros. Fora os cinco antoninenses, havia mais duas delegações: os escoteiros paulistas, um grupo de 85 pessoas,  que haviam chegado de trem dias atrás, e os escoteiros gaúchos, cerca de 70 rapazes, que haviam chegado por mar no dia anterior. O grupo todo fez uma caminhada sob sol quente da Lapa até o bondinho do Corcovado. Os cinco rapazes lembraram-se dos de estrada, onde passaram por situações piores que aquela. O sofrimento os fortaleceu e deu motivo de orgulho.  Lydio comentou, com ironia, que os escoteiros gaúchos e paulistas que estavam com eles na caminhada só assim puderam ter uma pálida ideia do que era caminhar durante quarenta e quatro dias.
Apesar do sol quente, os rapazes chegaram finalmente ao Corcovado.  Subiram para apreciar a paisagem. De lá de cima, os cinco se extasiaram com a imensa vista.  Morrendo de sede, eles se fartaram de tomar refrigerantes no barzinho lá no alto, segundo as anotações de Lydio. A vista imponente maravilhou os rapazes. Lydio comentou sobre a baia de Guanabara, descreveu as ilhas todas. Do outro lado, ficou impressionado com o tamanho do Oceano. Notou também a lagoa Rodrigo de Freitas, que descreveu como bonita e cheia de barcos de recreio. As fotos da época da estada dos rapazes no Rio deve ter sido similar as fotos que temos hoje disponíveis na internet.  Nele, pode-se ver uma cidade já grande, com avenidas sendo construidas e prédios sendo erguidos no centro e na zona sul.

foto de Peter Fuss - 1938
Era uma cidade sendo reprojetada. A preocupação nesta época, era com obras de mobilidade e com a doutrina do higienismo, então muito em voga. A cidade demanda por ligação entre seus eixos de crescimento, assim como requer cuidados com a drenagem de águas pluviais e o abastecimento de água. Neste período destacam-se as obras da Avenida Getúlio Vargas que, como vimos, foi a causa da destruição da Praça Onze, lamentada no samba do ano anterior. A Avenida Brasil estava sendo projetada. Para melhorar e a ligação da Zona Norte com a Zona Sul da cidade O morro de Santo Antônio estava sendo demolido. Era um Rio em obras a cidade que os quatro escoteiros estavam vendo.
Ao voltar para o Colégio Militar, onde estavam alojados, os rapazes ainda viram os blocos, ranchos e frevos que iam passando, indo para o carnaval. Neste dia, entretanto, não ia ter folia. Todos voltaram nos horários regulamentares, tomaram banho e fizeram fila para o jantar. O resto da noite foi de conversas com os demais escoteiros que estavam por lá.


Ainda tinha um dia de carnaval....

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

UM CARNAVAL NO ESTADO NOVO - parte 1

Orson Welles filmando o carnaval do Rio em 1942....pera lá, será que vi um escoteiro de Antonina nesta foto? o que ele estará fazendo lá?
A rapaziada estava em alerta. Mas desta vez não era o Sempre Alerta do Escotismo. Aquele sábado pela manhã, 14 de fevereiro de 1942, ao ir ao cais receber uma tropa de escoteiros que chegava via marítima, os quatro escoteiros antoninenses perceberam que a Capital estava diferente. Ao andar pela cidade de bonde e de trem – tinham feito um passeio ao Jardim Botânico - os rapazes iam sentido que a cidade era tomada de um ritmo diferente, produzido pelos tambores, tamborins, cuícas, ganzás, recos-recos e pandeiros, como anota o escoteiro Lydio Cabreira em seu diário:“escutamos muitas batucadas pelos morros e ruas”. O carnaval estava chegando. 
No domingo, nada podia mais deter os rapazes. Emprestaram alguns trajes civis dos colegas cariocas, pois no carnaval era proibido usar farda, mesmo que fosse a farda escoteira. O clima de festa vai contaminando a todos.  Lydio nos diz que desde o inicio do dia a “batucada tinha dominado a cidade”. Os meninos Beto, Milton, Lydio, Manduca e Canário iam se maravilhando com a grandeza da festa.
As pessoas vão chegando de bonde, de trem, a pé, todos fantasiados. Lydio notou que a fantasia tinha um sentido: a nudez. “seminus, aquele povo não queria saber de nada. Só uma coisa passava pela sua mente: orgia e nada mais”, escreveu em seu diário. Ao longo da avenida as bandas iam passando, tocando sucessos deste e de outros carnavais. Lydio não se contém e vai atrás de um cordão.
O destino de todos os cordões era a Praça Onze, onde Lydio  viu, encantado, Orson Wells e sua equipe filmando a folia. O cineasta americano estava no Brasil filmando o seu documentário ”It´s All True”, que nunca foi acabado. Embevecido vendo a filmagem, Lydio enfim percebeu que havia se perdido de seus companheiros. Mas tudo era alegria, diz ele, e seguiu pulando no meio da multidão. A música não parava nunca.
Uma das musicas mais cantadas deste carnaval era uma marchinha do ano anterior, “Praça Onze”, de Erivelto Martins e Grande Otelo, que lamentava justamente o fim da praça, que estava sendo  engolida pelas obras de urbanização da cidade. Local central e cosmopolita, a praça abrigava os imigrantes recém-chegados e a boemia da cidade e era o principal ponto de circulação dos blocos do carnaval de rua. Os foliões continuavam chorando o fim da praça na própria Praça Onze, onde as obras só iriam ser finalizadas em 1944, dando lugar à Avenida Getúlio Vargas. Em meio aos escombros da praça os foliões cantavam “Guardai os vossos pandeiros, guardai!”, meio como protesto, meio como lamentação.
Lydio passou o dia todo por ali, na fuzarca, como ele dizia. Acabou almoçando e jantando alguns pastéis. “Bastou”, segundo ele, cuja fome não era de comida, e sim de festa. Continuou pulando e só mais tarde, já noite, foi que reencontrou seus companheiros Canário e Manduca. os rapazes continuaram perambulando pela Praça Onze, e só muito mais tarde é que decidiram voltar ao Colégio Militar, onde estavam alojados. Eram onze da noite.
Tiveram que pular o muro, pois o guarda não os deixou entrar. No entanto, apesar de todos os cuidados para não serem descobertos, os escoteiros paulistas de guarda no alojamento descobriram a chegada dos foliões. Pegaram um castigo: no dia seguinte, tiveram que arrumar todas as camas, varrer os alojamentos e limpar o banheiro. “Tudo bem, falar o que?”, pensou Lydio, e anotou mais essa em seu diário.
O carnaval só estava começando....