sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O GRANDE DIA HAVIA CHEGADO - parte 1

O Palácio Rio Negro, em Petrópolis, onde os escoteiros de Antonina encontraram-se, finalmente, com Getúlio Vargas em 1942
O grande dia havia chegado.
No quartel, todos estavam agitados, com os últimos preparativos para a viagem a Petrópolis, para ver o Presidente Vargas. “O reboliço era demais”, anota Lydio Cabreira em seu diário. Desde as 6 da manhã havia um intenso corre-corre de rapazes arrumando os uniformes, escovando os dentes, penteando os cabelos, colocando os lenços, os chapéus, os cintos, e toda a farda escoteira da época.
Os escoteiros seguiram em carros de choque da policia do exercito para Petrópolis, onde veraneava Getúlio Vargas. Só um escoteiro não foi. O chefe Beto, logo o chefe Beto, tivera que ir ao banheiro e havia perdido o transporte. Segundo Lydio, ele e seus colegas em vão apelaram aos chefes escoteiros para que esperassem por ele. Mas não. As 7:00 foi dada a ordem de largada. Os caminhões se foram e o chefe Beto ficou.
Lydio nos conta o trajeto: seguiram pela Quinta da Boa Vista, São Januário, Bonsucesso, Ramos, Penha, Vigário Geral. Quando os caminhões pegaram a Rio-Petrópolis, Lydio se encanta: aquela era “a rodovia mais bonita que eu já havia visto”. Não era para menos. Reconstruída a partir da antiga estrada imperial, a estrada foi remodelada por Washington Luiz, que a reinaugurara em 1928. Durante muito tempo, foi considerada a melhor estrada da América do Sul. Lydio nos conta que a rodovia era asfaltada e, em alguns locais, cimentada. Nas laterais da estrada as amuradas eram presas por cabos de aço, para evitar acidentes. Havia muitas pontes. As pontes em formas de arcos encantam Lydio: “eram verdadeiras maravilhas da engenharia brasileira”, comenta.  
A estrada era muito sinuosa, correndo por entre as matas de intenso verde. Os rapazes se encantam com sua beleza. A estrada, em alguns trechos era cavada na rocha. Para Lydio, estes trechos apresentavam “o aspecto de uma paisagem europeia”. O clima ia ficando mais frio na medida em que subiam. As matas verdejantes colaboravam para que o clima tropical fosse amainado e seu ar fosse de uma pureza total, conforme anotou Lydio.
A comitiva chegou em Petrópolis por volta das dez e meia. Os veículos seguiram para o quartel do 1° Batalhão de Caçadores, uma das tropas de elite do Brasil na época. Logo a seguir, os rapazes assistiram no pátio interno do quartel a uma parada militar de toda a corporação para homenagear o General Heitor Augusto Borges e sua comitiva. O general, que já era conhecido dos rapazes de Antonina, era uma das figuras mais importantes neste momento, e também era chefe da União dos Escoteiros. Era ele que estava por trás daquela solenidade.  
Depois da parada, os escoteiros fizeram o rancho nos refeitórios do quartel, e logo a seguir foram ao Palácio Rio Negro, onde ia ter início a solenidade daquele dia. O palácio era um belo prédio art nouveau construído pelo Barão do Rio Negro nos últimos anos da monarquia. Na Republica, o imóvel foi adquirido pelo estado, transformando-se no palácio de verão dos presidentes brasileiros. De todos eles, quem mais fez uso do palácio sem dúvida foi Getúlio Vargas. Não houve um verão em seu governo que ele lá não estivesse.
Enquanto isso, nos jardins do Palácio, os escoteiros, enfileirados, estavam impacientes. já estavam por lá aguardando havia meia hora quando o presidente finalmente apontou numa esquina. Getúlio Vargas, todo de branco, vinha a pé, depois do passeio que costumeiramente fazia após o almoço.

Um grande alvoroço tomou conta da tropa. 

2 comentários:

  1. E a saga continua. Que bom! Um capítulo mais saboroso que o outro! Que dó do chefe Beto!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. obrigado, Edson, valeu!! então...é isso: pobre Chefe Beto!

      Excluir