quarta-feira, 15 de março de 2017

A VOLTA PRA CASA: A CHEGADA TRIUNFAL!


Ao cair da tarde do dia 4 de março de 1942, depois de passar ao largo de Cananeia e entrar no canal da Ilha do Mel, o vapor que conduzia os cinco escoteiros estava chegando ao atracadouro do porto de Paranaguá. O fato do navio chegar até ali e não ir até Antonina era simplesmente o fato causador da viagem dos rapazes, fazia três meses quase: o fechamento da Companhia Costeira pelo Governo Federal, que fazia a rota comercial até Antonina.
A carta que os rapazes haviam entregado explicava ao Ditador as razões da cidade para ter a volta dos navios da Costeira de volta. Antonina era o caminho mais curto para Curitiba, servido diretamente pela estrada da Graciosa. Era o atracadouro mais ocidental da baia de Paranaguá, com obvias vantagens em termos de distância e, consequentemente, em fretes.
Os navios da Costeira, que haviam sido recentemente estatizados pelo Governo, eram o grande elo que unia Antonina na rede do comercio de cabotagem do Brasil. Sem ele, o comercio perdia todas as suas vantagens e a cidade perderia muito em importância e em dinheiro. Na carta, a cidade pedia que a costeira pudesse voltar, e apelava para os mais nobres sentimentos do ditador.
Getulio fez o que lhe convinha: posou para fotos com os rapazes, ressalvou-lhes a coragem. Fez com que a Costeira voltasse a tocar, de maneira tímida, o atracadouro antoninense. Mas era pouco. Quando o ditador caiu, em 1945, a Costeira desapareceu tão irremediavelmente que nenhuma viagem a pé poderia faze-la voltar. A viagem dos rapazes que agora terminava como um grande sucesso, na verdade havia sido um movimento de grande coragem, mas em vão.
Longe deste horizonte, os rapazes iam acompanhando a manobra do navio para atracar no porto de Paranaguá naquele início de noite. No cais, os meninos foram recebidos pelo chefe dos escoteiros de Antonina, Maneco Picanço, e por alguns antoninenses que moravam na cidade. Foi uma grande festa. Um Ford V8 preto estava ali, esperando para levar os rapazes de volta para casa. Seria a última viagem até Antonina, de onde haviam partido em dezembro.
O motorista foi encher o tanque, uma tarefa bastante complicada naqueles tempos. A gasolina estava racionada em tempos de guerra, e demorou quase duas horas para voltar com o tanque cheio. De tanque cheio também estavam os rapazes, levados pelo Chefe para fazer uma boquinha antes da última viagem.
O Ford deixou Paranaguá as 22:00 horas, passando pela vila de Morretes despois de quase duas horas de viagem. Prosseguiram até Porto de cima e São João, no entroncamento da Estrada da Graciosa, onde pararam para descansar. Ali estava esperando por eles o Sr Nicolau Cecyn, em seu Ford verde, para acompanha-los no trecho final. No quilometro 8 da rodovia da graciosa o delegado de polícia de Antonina, o Sr Penny Withers, esperava para dar a boa vinda aos rapazes, em nome do prefeito, Capitão Custodio Afonso Neto.
Quando a caravana chefiada pelo Ford Preto cruzou a Avenida Thiago Peixoto, os foguetes começaram. Segundo Lydio, o espetáculo pirotécnico era indescritível. Foguetes e morteiros estouravam sem cessar, anota ele. Os carros só pararam, em meio ao foguetório, depois do portal da cidade, próximo do pátio da Estação Ferroviária. Uma grande multidão cercava os rapazes, dando-lhes beijos e abraços.
Como Lydio anotou em seu diário, teve início um grande desfile escoteiro nas ruas de Antonina que durou parte da madrugada, que só terminou na Caserna da Tropa Valle Porto, acompanhados por grande massa de pessoas. Ali, finalmente, os rapazes foram dispensados de sua missão e puderam ir para suas casas.
Ao chegar em casa, com sua família, Lydio conta que estava muito excitado para dormir. Estava cansado, com fome, mas sem sono, querendo desesperadamente falar. Sua mãe, dona Nathalia, foi fazer um café. Enquanto isso, Lydio contava para seu pai alguns dos detalhes da viagem. Eram 4 da manhã quando finalmente conseguiu pegar no sono. Segundo conta, sentia falta do balanço do navio. Fechava os olhos e tentava reter na memória tudo o que havia acontecido naquela memorável madrugada.
Enfim, em casa!

3 comentários:

  1. O escoteiro Lydio ficaria contente com a reconstrução do passado que você fez, a partir das suas anotações.

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  2. Obrigado, Edson!! Eu também gostaria de saber se ele ficou mesmo contente...

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  3. Olá Jeff. Fui contratado para escrever um livro sobre a odisseia dos escoteiros. Na minha pesquisa achei teu blog. Gostaria de conversar contigo. meu email é eduardoeugeniosigaud@gmail.com. Obrigado

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