sexta-feira, 28 de julho de 2017

ANTONINA EM 1854 (parte 1)


"Vista Geral de Antonina,1872", aquarela sobre papel de William Lloyd, 11 x 34 cm (duas folhas coladas), Liga Ambiental, Curitiba;

Um breve resumo de jornal (ver aqui) nos dá uma ideia de como era a Deitada-abeira-do-mar há 163 anos atrás.
Na década de 1850, a Villa de Antonina (não mais a Villa Antonina) tinha 4160 habitantes. Destes, 2092 homens e 2062 mulheres. A maioria é jovem: 2410 tem menos de 21 anos. 1168 habitantes têm entre 20 e 40 anos e 582 são mais velhos. Em 1853, segundo este censo, houveram 248 nascimentos e 102 enterros, sem precisar a idade. Trata-se, portanto, de uma comunidade com predomínio de jovens e crianças.
Dos seus habitantes, o censo consta com 2664 brancos, 604 mulatos e pardos e 892 pretos. O total de escravos é de 838, o que representa 20% do total da população. Não temos dados a partir destes para ver como era distribuída a posse destes escravos.
Esta população estava espalhada por 12 quarteirões, que eram os bairros a partir dos quais se fazia o censo. Estes quarteirões eram: 1) a vila; 2) a estrada da vila para a capital (a saída da cidade, no caso desde o fim do morro do bom brinquedo até alguma altura da estrada da graciosa); 3) estrada da vila para Porto De Cima; 4). No rio de são João até as Carniças (porto das carniças); 5) Saquarema; 6) Registro (foz do Nhundiaquara); 7) Faisqueira; 8) rio do Serro (Cedro?); 9) Cachoeira; 10) Cacatu; 11) novamente na Faisqueira; 12) Nhundiaquara.
Não temos ideia (o texto não indica) quantos fogos existiam em cada quarteirão. O “fogo”, unidade básica do Brasil nos primeiros séculos eram as casas, onde moravam as pessoas.
Segundo o censo, o município tinha 48 casas de negócio. Em termos de agropecuária, tinha 454 sítios de plantação e lavoura e 56 sítios de criação de animais. A produção deveria ser majoritariamente de cana e mandioca. Haviam 33 engenhos de aguardente em funcionamento trabalhando com bois e 25 engenhos movidos por agua. Além disso, havia ainda 30 olarias, que fabricavam louça, telha e tijolo.
A luz destes dados, a sociedade capelista era fundamentalmente agrária, produzindo como excedentes cachaça e farinha de mandioca. A mão de obra destes engenhos era provavelmente escrava. Faltam maios dados para ir além disso, mas comparando com outras áreas é esse o quadro que surge.
A população deveria habitar majoritariamente a zona rural, só indo à cidade aos domingos para a missa. Nestes dias, deveria lotar a pequena capela da colina. Neste tempo já se havia perdido o costume de se fazer transportar em redes e liteiras, como nos tempos coloniais. As famílias vinham em procissão, com o pai à frente, a mulher e os filhos logo depois. Encerrando o cortejo, os escravos, que ficavam no fundo da igreja. O tamanho do cortejo refletia a riqueza e a importância da família naquela sociedade.
Naquele tempo, era importante socialmente fazer parte das irmandades. Na Deitada-a-beira-do-mar, existiam três: a de são Benedito, a mais antiga, a do Pilar e a do Santíssimo Sacramento. Em geral, estas irmandades tinham a presença de todos, sendo as pessoas mais ricas e poderosas convidadas para cargos de direção. Eram as irmandades que faziam as festas e que organizavam a vida da vila.
Os padres, neste tempo em que não havia separação entre Igreja e Estado, eram funcionários públicos. Recebiam um salário do governo, a côngrua, que mal dava para suas despesas. Complementavam seus ganhos com contribuições recebidas das irmandades e de particulares para festas, casamentos, batizados e funerais.
Haviam três igrejas na vila. Destas, a única que tinha condições para missas era a matriz. A Igreja de São Benedito estava apenas coberta. A do Bom Jesus só tinha as paredes. O cemitério do Bom Jesus era particular, e não havia ainda recebido a benção. Provavelmente, as pessoas eram enterradas, como o costume da época, nas igrejas. Não temos ideia como seriam e onde estão os corpos destas pessoas. As pessoas mais ricas eram enterradas mais próximo do altar. As outras conformavam-se com as partes menos nobre e, aos escravos, era reservado o adro ou as partes externas.
(continua)

domingo, 16 de julho de 2017

A MARIA ANTONIETA DAS ARAUCARIAS



Nem assaz alhures e antanho
era um evento tamanho
a sagração nupcial”
Edu Lobo e Chico Buarque,
O Grande Circo Místico

Não houve assunto na “Capital Ecológica” que não fosse o grande espetáculo que foi o casamento de Maria Victoria Borguetti Barros. A Maria Antonieta das araucárias. A moça, herdeira presuntiva (?) do clã dos Barros, queria se casar. E então a princesa escolheu (sonho de noiva!) a Igreja do Rosário, bem no centro de Curitiba. Para a Festa de suas bodas, a jovem deputada pelo PP escolheu, naturalmente, a Sociedade Garibaldi, que fica logo ali, logo ali do ladinho, como diríamos em Antonina. E deu no que deu.
As coisas não cheiravam bem desde a semana passada, quando foi mostrada pela imprensa a bizarra estrutura da festa no Palácio Garibaldi.  Tudo indicava que um grande evento sem-noção estava para acontecer. A ocupação de bens tombados, a ostentação da Festa de Maria Victoria, os preparativos na Igreja do Rosário, tudo indicava um cenário perfeito para uma manifestação.
Segundo o Blog do Esmael, a ovação foi pensada dentro do próprio palácio do governo estadual. Certamente por pessoas contrárias à pré-candidatura de Cida Borguetti, a mãe da noiva, ao governo do estado.  A própria direita xucra do MBL não via com bons olhos a ostentação, embora apoiem Temer e outros canalhas, como Beto Richa. Foram, entretanto, os movimentos de esquerda que foram à frente da Igreja distribuir ovos e enfrentar a polícia. Ponto pra nós.   
As cenas de confronto e as ovações foram amplamente divulgadas pelas redes, não é preciso repeti-las aqui. Outros já falaram da ostentação, do momento, da falta de sensibilidade (ver aqui). O que me incomoda é outra coisa.
copiei daqui
Quando esteve na Província do Paraná, em 1880, D. Pedro II soube, por um político local, que o Dr Jesuíno Marcondes (1927-1903) estava fazendo falcatruas com compra e vendas de terras, fraudando o Tesouro Imperial. O imperador ficou furioso, e anotou em seu diário: “outra vez! ”. Nada aconteceu. Jesuíno Marcondes foi por diversas vezes Presidente da Província. Era inclusive o presidente em exercício quando veio a República, que o fez exilar-se belamente em Genebra, onde morreu.
Silvio Barros, o pai de Maria Victoria e Ministro Golpista da Saúde, deu declarações à imprensa dizendo que “tudo ocorreu como deveria” (ver aqui). A própria noiva teria dito aos jornais que isso era o “preço da democracia”. Ou seja, eles tinham plena certeza do confronto e o programaram, como se fosse uma propaganda política. Eles vão ficar expostos, todo mundo vai falar deles, a casamento vai virar “trend topic” nas redes e tudo bem. Eles saem ganhando com a exposição.
É este o cerne da questão. Enquanto os políticos da “Revolução Corrupta” estão ocupando espaços e alterando radicalmente as leis e a política, o que fazemos? Quais as metas? Estamos nas cordas, tentando defender Lula, tentando defender o PT. Mas, o que nós dizemos para a população que está perdendo seus direitos e está vendo essa barafunda toda?

De que adianta falar do simbólico, dizer que a igreja do Rosário era uma igreja da “irmandade dos homens pretos”? Maria Victoria quer se casar lá porque a igreja é bonitinha. Se tiver problemas de condução, ela pega um camburão. Se não der pra ir, ela chama a polícia. Pior, a polícia vai quando ela chama!
O poder no Paraná (e no Brasil, por suposto) está nas mãos desta canalha. Uma canalha que dorme bem de noite.

Quem precisa de desprincesamento somos nós.


sexta-feira, 14 de julho de 2017

O LADRÃO DE ANTONINA


Pobre país! A corrupção alimenta a vaidade, para dar vida ao patriotismo!” – é a legenda da charge de Ângelo Agostini, publicada em “O Cabrião”, 1867 (copiei daqui).
Hoje vivemos tempos muito turbulentos. Em nome do combate a corrupção, diversas ações têm sido realizadas. Recentemente, na nossa bela Deitada-a-beira-do-mar, tivemos uma prisão importante, de uma pessoa bastante poderosa. Por outro lado, inúmeras prisões são realizadas num espetáculo de mídia, como se o mais importante fosse a encenação e não o principal. Quando a pessoa presa é liberada, por problemas da acusação, seja por insuficiência na acusação, seja por falta de provas, a grita é enorme.
Não é possível condenar por convicção, como já dissemos. Por outro lado, em outros processos provas arrasadoras são mostradas e não provocam nem ação de polícia nem indignação das pessoas. Estes são os tristes tempos em que vivemos. Como era, no passado, o combate à corrupção? Como casos de roubo do bem público eram tratados no Paraná e em Antonina no passado?
Esta é a história de Luiz Tibireçá da Silva Dória, que foi nomeado em 21 de abril de 1854 como coletor interino das rendas provinciais da Villa de Antonina (ver aqui). Era um cargo importante: Luiz Tibireçá deveria recolher os impostos devidos e, no momento certo, fazer também os pagamentos aos funcionários públicos e demais despesas do governo.
Trata-se de um cargo vital para a arrecadação de impostos do governo. O tal do coletor, por isso mesmo, é uma pessoa importante socialmente nas cidades onde havia a tal da coletoria, e assim o foi durante muito tempo. Era ele que literalmente coletava os impostos e fazia os devidos pagamentos do governo. Pra se ter uma ideia, no Paraná, os pagamentos e o recebimento de impostos só foram separados, da maneira como temos hoje, no início dos anos 1960, no governo Ney Braga.
Não sabemos, em função dos poucos documentos que temos, quem era Luiz Tibireçá, onde nasceu ou qual era sua família. Entretanto, parece, pelos seus atos subsequentes tratar-se de uma pessoa de uma família bem situada socialmente, tanto é que foi nomeado coletor. Na época de sua nomeação, Luiz Tibireçá devia ser bem jovem e inconsequente, como mostraram seus atos. Era o início das atividades da nova província do Paraná.
Pouco antes, em dezembro de 1853, a antiga 5ª Comarca de São Paulo desmembrava-se e surgia a Província do Paraná. Quando o Baiano Zacarias de Gois e Vasconcellos, destacada figura da política imperial, subiu a serra para instalar Curitiba como capital da nova província, tudo estava sendo iniciado. O Conselheiro Zacarias demorou-se ali por pouco tempo, onde organizou minimamente os cargos e funções da nova província. Construir estradas, arrumar os portos, fazer as instituições funcionarem, foi esta sua tarefa. Assim, numa de suas penadas, Luiz Tibireçá foi nomeado coletor e também o agente dos correios na graciosa Villa de Antonina (ver aqui).
Num comunicado de janeiro de 1855, sabemos que ele era também o agente interino dos correios. O engenheiro Villalva, que iniciava os trabalhos de calçamento da Estrada da Graciosa, foi incumbido de entregar a Luiz Tibireçá duas mulas e uma cangalha, para transporte do correio entre Curitiba e Antonina (ver aqui).
Foi quando tudo entornou. A demissão de Luiz Tibireçá ocorreu em 29 de abril de 1855, pouco mais de um ano após sua nomeação (aqui). Pouco antes disso, nosso jovem coletor havia se apropriado de tudo o que tinha conseguido arrecadar dos impostos devidos a província e, como se dizia naquela época, tinha-se escafedido. Arre, que biltre!
Em matéria no jornal “O Dezenove de Dezembro” de 25 de abril de 1855, consta que Luiz Tibireçá, de posse dos impostos surrupiados da coletoria provincial, estava fugindo para o Rio da Prata (aqui). Era o caminho natural dos que faziam malfeitos, principalmente os pecuniários. Nos jornais e nas conversas, todos o davam como vivendo bem e feliz, seja em Montevidéu, seja em Buenos Aires.   À tripa forra, como se dizia na época.
No entanto, nosso meliante não havia ido assim tão longe. Dedicado a gastar o dinheiro em tão má hora adquirido, pôs-se a gastar em farras e divertimentos bem próximo de Antonina. Mais precisamente na Villa de Desterro, Capital da província de Santa Catarina.
E foi ali, na Ilha da Magia, que Luiz Tibireçá foi finalmente preso. Conduzido preso a Paranaguá e posteriormente à Curitiba, o sacripantas foi devidamente inquirido pelo doutor delegado sobre o dinheiro que havia se apropriado. Qual não foi a surpresa do nobre policial ao verificar que Luiz Tibireçá havia gasto “em dissipações, jogos, passeios e divertimentos” tudo o que havia roubado em Antonina (ver aqui). Nada, nem um mísero mil-réis havia sobrado! Ali mesmo Luiz Tibireçá foi incurso em diversos itens do código criminal, e remetido a julgamento em Paranaguá.
Para os que acreditam ser a justiça brasileira desde sempre muito morosa, aqui vai um espanto: seis meses depois, em 4 de janeiro de 1856 já estava concluído o processo de Luiz Tibireçá. Não conseguimos saber qual foi sua pena, em face dos documentos analisados. Sabemos, entretanto, que o larápio passou seus dias de apenado na cadeia de Paranaguá. Ali, em fevereiro de 1858, Luiz Tibiriçá faz um pedido para que sua mulher, Adelaide Ferreira da Silva Doria, pudesse permanecer com ele na cadeia. O pedido foi indeferido (ver aqui).  
Entretanto, nem tudo são espinhos na vida de nosso ex-coletor. Em fevereiro de 1863, ou seja, cerca de cinco anos depois, ele está vivendo muito provavelmente na bela Ponta Grossa, a Princesa dos Campos. Neste período, sabemos pelos jornais que Luiz Tibireçá é o 1º secretário da prestigiosa “Sociedade Patriótica Defensora da Nação” (ver aqui).  Nesta Sociedade, com outros cidadãos ilustres, ele assina um manifesto contra agentes britânicos, que faziam “represálias injustas” contra navios brasileiros ao longo de nossa costa. Logo ele!
Sabemos que fez sua carreira como advogado. Numa de suas lutas no tribunal, em janeiro de 1864, Luiz Tibireçá perdeu um caso. Como membro do Ministério Público de Ponta Grossa, ele não conseguiu a condenação de Maria Cecilia, acusada de furto (ver aqui). No entanto isto pouco valia. Tanto a defesa quanto a acusação fizeram, segundo a notícia do jornal, um debate que beirou o “sublime”.  Já em março de 1865, quando os bravos Voluntários da Pátria passam por Ponta Grossa indo juntar-se aos que já lutavam contra Solano Lopez, Luiz Tibireçá é um dos inflamados oradores (ver aqui). Em 1867, o escrivão Joaquim José de Camargo passa um certidão de bons antecedentes a nosso bom Luiz Tibireçá (ver aqui).
Nada mais sabemos deste interessante personagem. Vemos entretanto que ele conseguiu dar a volta por cima e ser um cidadão de bem e querido na nova comunidade que adotou. No entanto, parece importante reparar na pena relativamente branda para um homem branco e rico. E se ele fosse preto e pobre? Quanto tempo ficaria preso? Poderia pedir para que sua esposa ficasse com ele na cadeia?
A história de Luiz Tibireçá nos mostra, por outro lado, que pouco mudamos neste país. Continuamos a prender os pobres e a soltar os ricos. Nosso contingente de presidiários fala por si. Mesmo quando lidamos com causas como a corrupção política, pouco muda. Um presidente operário vale menos que um presidente advogado, mesmo que as provas contra um sejam duvidosas e contra o outro sejam materiais e comprovadas.
Luiz Tibireçá errou de século. Hoje, quem sabe, ele não pegaria uma prisão domiciliar? Ou nem isso?

sexta-feira, 7 de julho de 2017

LAVAJATUS


(a Paleontologia Imaginária é um ramo da Paleontologia que trata de animais incertos; é um ramo do conhecimento que faz fronteiras com a paleontologia, a geografia, a física molecular, a psicologia e com Morretes (PR). Como membro da Sociedade Brasileira de Paleontologia Imaginária (SBPI) e colaborador da South American Review of Imaginary Paleontology, periódico classe A1 da CAPES, venho através deste blog fazer a divulgação científica da Palentologia Imaginária para o publico interessado em ciências)

Entre todos os fósseis estudados no período Triássico, os répteis do grupo Lavajatus foram uma de suas espécies mais características. Foram especialmente dominantes entre o Triássico inferior (Andar Bumlaiano), quando tiveram rápida radiação (Janot, 2015). Depois de um período onde foram os predadores mais importantes (Moro et al., 2016), acabaram por se extinguir no final do Triássico superior (Andar Joesleyano).
O gênero federalicus foi um dos gêneros mais importantes do Triássico inferior. Tratam-se, provavelmente, de saurídeos pequenos e muito velozes, que andavam em bandos, atacando preferencialmente de manhã bem cedo (Silva et al., atas do Congresso de Paleontologia Imaginária de Curitiba, 2016). No entanto, apesar de seus hábitos matinais, paradoxalmente, estes saurídeos tinham problemas de visão, já que foram registrados muitos espécimes usando óculos de proteção, em especial de cor escura. Muitos espécimes especialmente bem preservados foram desenterrados em diversos sítios paleontológicos imaginários (Silva, op.cit.).
Alguns destes espécimes do gênero federalicus foram objeto de muita especulação nos meios científicos, como o federalicus lenhadoris e, principalmente, o federalicus niponicus. No entanto, estes espécimes eram periféricos, e logo desapareceram no registro paleontológico. Os mais importantes, na escala evolutiva eram os saurídeos do gênero ministeriopublicus.
Entre os espécimes do gênero ministeriopublicus, era bastante ruidoso o M.  dallagnolicus. Este espécime era especialmente perigoso porque matava suas vítimas com mordidas sépticas e com apresentações mortíferas de powerpoint (Zavascky, 2015). Quando atacava suas presas nas planícies deltaicas do Triássico médio, o dallagnolicus não tinha provas, mas tinha muita convicção.
Os métodos de caça dos ministeriopublicus eram geralmente derrubar as presas e arrasta-las para cavernas especialmente selecionadas. Uma vez lá dentro, os ministeriopublicus faziam-nas delatar umas às outras. Outra forma de caça eram os vazamentos seletivos (Moro, 2016), quando inundavam uma área selecionada no lado esquerdo dos vales para caçar os animais pegos de surpresa em armadilhas. Os animais do lado direito, durante o Triássico inferior, escapavam com facilidade destas armadilhas (Neves & Mendes, 2015).
Os saurídeos do grupo lavajatus irradiaram-se bastante durante o Triássico médio, especialmente dispersos no território sul-americano. São encontrados sítios com ocorrências de ossadas quase intactas destes animais ao longo de quase todo o território brasileiro, embora espécies possam ter sido encontradas também em jazimentos no Equador, Colômbia e Peru (Santos & Toledo; Atas do Congresso de Paleontologia imaginária das Ilhas Cayman, 2012).
Nos sítios paleontológicos fósseis do Brasil existem muitas controvérsias sobre ocorrências de saurídeos do gênero ptistus nos sítios paleontológicos de Atibaia e no Guarujá (OAS, 2013). No entanto, sobram evidencias de saurídeos do gênero tucanossauros em diversos pontos de Minas Gerais e de São Paulo (M. Odebrecht, comunicação pessoal). Escavações no metrô paulistano revelaram, ao menos parcialmente, alguns esconderijos fósseis ainda não suficientemente investigados (ALSTOM, 2012).
O ministériopublicus, com auxílio dos federalicus, predavam seletivamente os sáurios do gênero ptistus, que quase foram extintos ao final do período Carniano (Andar Pallociano). No entanto, na medida em que se achavam mais poderosos e dominando todo o ambiente, no período Ladiniano, os saurídeos da lavajatus se aproximavam dos dinossauros maiores e mais ferozes, tentando domina-los, o que acarretou sua extinção (Jucá, Atas do Congresso de Paleontologia Imaginária das Bahamas, 2016).
Existem evidências que os saurídeos do grupo lavajatus foram extintos no final do triássico. Os grandes dinossauros do gênero pmdbistus, acuados pelos federalicus e pelo ministeriopublicus finalmente reagiram (Jucá, op. cit.). Algumas espécies de federalicus foram privadas de recursos ambientais e se extinguiram já no período Temeriano. Os saurídeos do gênero tucanossaurus encontravam uma saída ambiental sofisticada através do mecanismo dos Sifões Transientes Facilitadores (STF), ficando facilmente fora do acesso dos animais do grupo lavajatus e continuaram se multiplicando (Mendes & Neves, 2016; Neves & Mendes, 2017; Fachin & Mello, 2017). O ministeriopublicus, também sofrendo em condições adversas, acabou por se extinguir ao fim do Triássico (Andar Wesleyano).
No entanto, o consumo exagerado de pastagens mesozoicas por parte dos grandes sáurios dos gêneros pmdbistus e tucanossauros e outras espécimes menores começou a afetar a totalidade do ambiente. O consumo indiscriminado de capins do gênero propina sp acabou por inviabilizar toda a fauna da região (Batista & Odebrecht, 2017a, b). Existem evidências de extinções maciças de diversas espécies de saurópodes em todo o Gondwana Meridional no início do Jurássico (Maia, em preparação). Nesta área do planeta, durante o Mesozoico, essa fauna toda não precisava de meteoros ou de extensos episódios de vulcanismo para se extinguir.

Arte: Julian Fagotti

segunda-feira, 3 de julho de 2017

ANTONINA E A CORRUPÇÃO



Que Antonina é fantástica, todos já sabem. Todo mundo que sentiu no rosto o vento do mar na colina da matriz ou quem já comeu bolinho de bacalhau no mercado sabe do que estou falando. Antonina, a Deitada-abeira-do-mar, a cidade e sua gente, tem um jeito diferente, que ri dos percalços da vida, que brinca e fala o malemolente linguajar dos bagrinhos, é um lugar especial, que cativa e encanta.
No entanto, na noite desse frio domingo de julho, soube que a cidade era a notícia do Fantástico, da rede globo (assim mesmo, em minúsculas). Faz anos que não vejo o Fantástico. Tem coisa melhor para fazer nas noites de domingo. Inclusive fazer nada. Ver esse programa sensacionalista e apelativo não é uma boa maneira de começar a semana. Por isso, não vi.
Mas sei do que estão falando. Qualquer um no Brasil sabe o que estamos falando. Aqui na região de Campinas, que tem cerca de 3,1 milhões de habitantes e concentra 8,5% do PIB paulista, o problema da corrupção é endêmico (aqui). Recentemente, em 2012, o prefeito de Limeira (300 mil habitantes) foi afastado do cargo por corrupção (aqui), mas voltou por decisão judicial. Na lista da Lava jato constam o ex-prefeito e o atual prefeito de Campinas (1 milhão e 200 mil habitantes), o ex-prefeito de Paulínia (80 mil habitantes) e Sumaré (260 mil habitantes). A corrupção está no nosso dia-a-dia, em nível municipal.
Se digitamos na busca do Google “prefeito corrupto” dá aproximadamente 495 mil entradas. “Corrupção prefeitura” dá 848 mil entradas e “prefeito afastado por improbidade administrativa” dá 293 mil entradas. O número de casos é grande, quase como uma epidemia.  
Como não saber da corrupção? No caso do indigitado ex-prefeito, já sabíamos antes da eleição (ver aqui). Briguei com grandes amigos meus por causa dele, o “grande apolítico” (aqui). Toda vez que vou à Antonina, alguém me conta de um causo. Quando a câmara tentou enquadra-lo, ele comprou a câmara. Todos sabiam. Por que o espanto agora?
Parece que todos sabem. E quem está “lá dentro” não tem pudor em ganhar o que não lhe é devido. Pessoas honestas e bem-intencionadas acabam “entrando no esquema” e saindo sujas como qualquer ladrão de galinha.
Não adianta fazer mea culpa, como vejo alguns fazendo. Não adianta chorar. Culpa quem tem é pecador. Criminoso é quem comete crime. A culpa pode ser resolvida num culto evangélico ou num confessionário. O crime é resolvido com a devolução do roubado e com uma pena a ser paga, dependendo do crime.
Alguns estão se deliciando com o outro apanhado com a boca na botija. Ou a boca no dinheiro. No entanto, não podemos nos comportar como se fôssemos incorruptíveis, ou como se isso não acontecesse conosco - ou com nossa família. Fechar os olhos para isso é um caminho para cairmos na armadilha. Devemos sim é pensar no quanto somos cúmplices com estes esquemas, quanto não deixamos – por ação ou omissão – nosso dinheiro e nossos direitos irem para o ralo.
A nível estadual, vocês no Paraná têm o Beto Richa, que dispensa apresentação. Aqui em São Paulo temos Alckmin e os 24 anos de PSDB e seus esquemas mal resolvidos e impunes. Ambos aliás eleitos no primeiro turno. A nível Nacional, estamos vendo que boa parte da população tolera um presidente notoriamente corrupto, mas que os livrou do “monstro petista”. Para não termos as “pedaladas” ou as pretensas bobagens que a presidenta Dilma falava, tolera-se a corrupção e as gafes internacionais de Fora Temer. No congresso e na justiça, a impunidade rola à solta, como se rissem de nós. Foi para isso que o pessoal com a camisa da seleção foi pra rua?
No caso da Deitada-a-beira-do-mar, mais do que virar um festival de piadas no Jequiti ou um Fla-Flu, devemos pensar melhor. Até que ponto nos deixamos levar por este estado de coisas, que nos levou a ser conivente e naturalizar a corrupção até chegar no ponto que chegamos?  
Até porque, na internet, estão batendo nos fracos, pra variar. O nosso conhecido assessor que beija dinheiro, nosso ex-vereador que chora, todos esses são arraia miúda, café pequeno. Bagrinho no pior sentido da palavra. O esquema maior, no entanto, continua na ativa e ditando as políticas da Terra de Valle Porto. Esse aí, quem se atreve a apontar?
(Como muitos devem notar, não estou há tempos escrevendo sobre Antonina e seu cotidiano aqui no blog. Os motivos são muitos. O principal é que, de longe, é mais difícil enxergar as folhas das arvores. Não se pode falar de longe, de onde estou. Por isso, não tenho mais comentado sobre fatos de cotidiano. Mas esse me pareceu importante demais.)