sábado, 2 de setembro de 2017

ANTONINA EM 1854 (PARTE 6)


As epidemias eram grandes ameaças no século XIX. Capa da Revista Ilustrada de 1876 mostrando a grande ceifeira aprontando as suas...e Antonina?
Antonina em 1854 era um lugar insignificante. Quando esteve brevemente na Deitada-a-beira-do-mar, em 1858, foi com essa palavra que o naturalista suíço Johan Tshudi descreveu a cidade (aqui). No entanto, ele não deixou de ressaltar que o cenário da cidade, com as serras ao fundo, fosse realmente encantador. Tshudi passeou pela cidade com somente ”duas ruas paralelas e uma fileira bem comprida de casas, que dão para uma praça coberta de capim, onde pastavam cavalos e vacas”.
Segundo Ermelino de leão, o que existia era a Rua Direita, a atual XV de novembro, e a Rua da Charqueada, atual Carlos Gomes da Costa. Esta última passou a se chamar depois rua de São Benedito, cuja igreja, ainda em construção, era a mais importante construção da rua. As duas ruas iam dar no largo da Matriz, a atual praça Coronel Macedo. Por ali, no campo aberto próximo da colina o mato crescia e todos deixavam para pastar os animais que Tshudi viu. A outras ruas, como a ladeira que vinha da matriz (a Ladeira da Matriz, portanto), as ruas da Fonte e do Lava-pés, citados por Ermelino, eram somente “carreiros” por entre as casas.
No entanto, a pequena e insignificante villa, que se tornaria oficialmente cidade três anos depois, tinha planos para si própria. Em 5 de setembro de 1854 é publicado nos jornais (aqui) uma resolução da Câmara Municipal da Villa Antonina sobre as posturas municipais. Posturas municipais são uma série de normas que as câmaras municipais produzem para ordenar as cidades (aqui).
O decreto estabelecia que os proprietários de datas teriam um prazo de até dois anos para edifica-las, sob pena de multa. Depois de 10 anos, a câmara poderia desapropria-lo. As casas eram obrigadas a serem alinhadas pela direção das extremidades da rua.
Os muros deveriam ter um mínimo de 12 palmos de altura, ou seja, cerca de 2,7 m. Os muros e as casas deveriam ser caiados ao menos a cada dois anos, sob pena de multa. Também era obrigatório o calçamento das frentes das casas, no nível da rua. Tudo isso era ônus do proprietário.
Quem tinha carro, ou seja, carro de tração animal que trafegasse pelas ruas da vila deveria pagar uma taxa de 2 mil reis anuais. Aos infratores, a multa triplicava.
Também os negociantes ambulantes tinham que pagar uma licença anual. Era comum naquela época a grande quantidade de vendedores ambulantes andando com tabuleiros e caixas pala cidade como pelas áreas rurais.
Havia uma preocupação grande com a saúde pública. O artigo 8º da resolução previa multas para quem deixasse porcos, cães e cabras vagando pelas ruas. Da mesma forma, todo aquele que atirasse as ruas “qualquer coisa de fácil putrefação”, ou que servisse de estorvo ao trafego de pessoas e carros deveria pagar uma multa e era, além disso, obrigado a lança-la fora. No caso de não se saber quem foi o porcalhão, o fiscal fazia o lançamento às custas da Câmara.
Era evidente a preocupação higienista do poder público. Naquela época acreditava-se na teoria dos miasmas, que eram doenças transmitidas pelo ar. Quando esteve em Antonina em 1883, o jornalista teuto-brasileiro Karl Von Koseritz (1830-1890) (aqui) notou que Antonina não era uma cidade limpa. O que o preocupava era que O pior estado sanitário é devido à extraordinária extensão das marés”. A lama do mangue assim exposta ao sol fazia Koseritz acreditar que em Antonina “não deverão faltar os miasmas”. 
A população da cidade se preocupava com sua saúde. Nos anos 1850 os surtos de cólera no Rio de Janeiro preocupavam as autoridades da nova província (aqui). Antonina e Paranaguá eram os locais mais preocupantes, devido as ligações marítimas frequentes com a Corte. Havia inclusive o projeto de uma quarentena para possíveis infetados na estrada da Graciosa e do Itupava.
No entanto, como resistir? Segundo o relatório enviado ao Presidente da Província, relatam planos a serem desenvolvidos no caso de uma real epidemia. Haviam poucos hospitais, com poucos leitos. Algumas localidades possuíam poucos médicos e algumas onde não se encontra “ao menos um curandeiro”.
Felizmente, a tal epidemia de cólera não veio. Mas, e se viesse? Como poderiam os nossos trisavós se safarem desta?
(continua)

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